Café a preço de ouro: como a crise climática está transformando a xícara de cada dia
Mudanças climáticas, queda na produção e aumento da demanda global fazem o preço do café disparar, impactando produtores e consumidores em escala mundial.
O café, uma das bebidas mais populares do mundo, está enfrentando uma crise sem precedentes. Mudanças climáticas, redução na produção e o aumento na demanda global estão transformando a rotina de quem consome a bebida diariamente. O café arábica, reconhecido por sua qualidade superior, atingiu o maior preço dos últimos 47 anos, com contratos futuros sendo negociados a US$ 3,48 por libra-peso na última semana.
O Brasil, maior produtor e exportador mundial de café, sofre com a instabilidade climática. A pior seca em 70 anos, seguida por chuvas fora de época, impactou fortemente a safra de 2024/2025, que registrou uma redução de quase 6% em relação ao esperado. Este é o quinto ciclo consecutivo prejudicado por condições adversas.
Especialistas indicam que o cenário climático deixou de ser uma anomalia para se tornar uma constante. “Os produtores estão enfrentando um desafio estrutural: adaptar-se a um padrão climático marcado por extremos de temperatura e precipitação”, afirma Carlos Mera, analista do Rabobank.
Além do Brasil, outros grandes produtores como Vietnã, Colômbia e Etiópia também enfrentam dificuldades, expondo a dependência do mercado a poucas regiões tropicais e aumentando a vulnerabilidade global.
Enquanto a produção enfrenta desafios, o consumo de café continua em ascensão, especialmente em mercados emergentes como China e Índia, onde a bebida vem ganhando popularidade. Esse aumento na demanda, combinado com estoques em níveis críticos, pressiona ainda mais os preços.
Segundo o economista David Oxley, da Capital Economics, a normalização do mercado depende de uma recuperação significativa da produção, algo que pode levar anos. “O setor precisará de tempo e investimentos para equilibrar oferta e demanda”, explica.
Com o aumento dos custos de produção, o impacto é sentido diretamente pelo consumidor final. Os preços em supermercados e cafeterias já refletem a alta, forçando mudanças nos hábitos de consumo. Muitas pessoas estão optando por variedades mais baratas ou reduzindo a frequência de compra.
Especialistas apontam que diversificar a geografia da produção, investir em variedades mais resistentes e adotar práticas agrícolas sustentáveis são medidas essenciais para mitigar os impactos da crise climática.
O café, símbolo de conforto e socialização, está se tornando um reflexo das mudanças globais que afetam a agricultura. Sem ações efetivas, a bebida mais popular do mundo pode se tornar um luxo acessível apenas para poucos.